Friday 29 June 2012

Não queremos um Iraque em todas as regiões


Transcrição integral da entrevista feita a Dom Farès Maakaroun, arcebispo do greco-melquitas no Brasil. A notícia está aqui. Para esta entrevista contei com a ajuda inestimável de Philippe Gebara, a quem agradeço.

Quando falámos, D. Farès estava ainda no Líbano, onde esteve a participar no sínodo da Igreja Melquita.

Foi discutida a questão da Síria durante o Sínodo?
O Sínodo aconteceu no Líbano, na sede Patriarcal, a 50 quilómetros de Beirute. Participaram todos os bispos do Oriente e da Diáspora também, da América, Canadá, Austrália e América do Sul. Todos participaram menos os que estavam bem doentes.

Foi uma semana de encontros, de reflexão e, visto a situação um pouco crítica no Oriente, especialmente na Síria, e como de greco-melquitas já morreram pelo menos 200 a 300 pessoas, e há bastantes pessoas que já saíram das suas aldeias, estudámos a possibilidade de como fazer para poder lançar uma chamada ao mundo inteiro, pela paz, pela fraternidade, pela ajuda mútua, porque todo o mundo está a precisar de amor, de carinho, de amor, de comida e de bebida, de padres para cuidar deles. Há padres que precisam de ajuda, porque a maioria, em algumas regiões, não têm possibilidades de ter sequer um salário mínimo para viver.

Estudámos um pouco esta situação complicada e pedimos muitas orações aos responsáveis de todo o lado, de permitir um pouco mais à região, de trabalhar a humanidade, aos homens de boa-fé, de boa vontade, de trabalhar bem, para que a paz possa reinar em todo o lugar, porque perder tudo seria algo prejudicial para todos.

Discutimos essa situação e também estamos tentando colocar bispos onde faltam, mesmo dentro da Síria, porque em muitas regiões a paz reina completamente, não têm nada de especial, mas há regiões que são um pouco críticas e faltam dois* bispos na Síria. Enviámos os nomes para o Vaticano e estamos à espera de confirmação.

No início das revoltas a Igreja Melquita teve uma posição muito cautelosa e parecia estar com algum medo do que poderia acontecer se de facto fosse derrubado o regime.
Somos cristãos do Oriente. Somos árabes. Somos sírios, libaneses, iraquianos, egípcios, jordanianos, palestinianos. Não somos estrangeiros aqui, é nossa terra. Sempre os cristãos tentaram ser cidadãos exemplares em todos os lugares. Mas com esta situação complicada ninguém sabe o que está a acontecer. Pedimos às forças mundiais para nos deixarem em paz ou para nos ajudarem para permitir a paz. Ninguém sabe o que o amanhã pode trazer, nem o que uma troca de regime pode dar. Tome-se o exemplo do Iraque, que é muito triste. Não queremos um Iraque em todas as regiões. Hoje, depois de anos e anos, centenas de pessoas morrem todos os dias. Queremos a paz, o amor e o perdão. Vamos continuar a rezar, a amar e a perdoar a todos.

Tem havido relatos de perseguição aos cristãos por parte dos opositores ao regime. Confirma isso?
Não tem casos muito especiais, mas quando há pessoas a morrer, um tipo de guerra aqui ou ali, todos perdem, sejam cristãos ou não. Mas como os cristãos não participam, não andam armados, eles ficam na situação de perder tudo. Nós olhamos ao exemplo de Nosso Senhor Jesus Cristo, levado à cruz, sim, mas sabemos que na final a religião vai vencer, a fé vai vencer, o bem vai vencer o mal. Com a graça de Deus, a graça da Virgem Maria nossa mãe, mãe de todos nós, respeitada também pelo mundo muçulmano, temos muita esperança que apesar dos feridos e dos mortos, vamos ter no final uma cura.

Acredita que essa paz que tanto deseja é possível ainda com o regime actual no poder?
Não entendo bem a política, mas entendo bem as coisas do céu. E com a ajuda do Senhor ninguém sabe. Nosso Senhor venceu a morte pela morte. Tudo é possível com a graça de Nosso Senhor Jesus Cristo.

*Por erro do entrevistador, numa versão anterior lia-se que faltavam dez bispos na Síria. O som da entrevista não estava totalmente perceptível, mas a Igreja Melquita teve a bondade de me enviar uma correcção a esse respeito. É de realçar que dos dois que faltavam, o novo bispo de Homs já viu a sua nomeação confirmada pelo Vaticano.

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