Monday 17 December 2012

4 – Liberdade Religiosa na Europa


Uma semana mais tarde um tribunal em Colónia proibiu a circuncisão de crianças por razões religiosas, o que passados seis meses ficou novamente resolvido por forma legislativa.

Há coisa de semanas o debate sobre a matança ritual, que afecta judeus e muçulmanos, voltou a estar na ordem do dia, mas desta vez na Polónia.


À primeira vista são várias notícias diferentes, mas todas têm em comum as novas ameaças à liberdade religiosa na Europa.

Se não se tiver em conta o caso britânico, então até seria possível fingir que isto não é mais do que um continente historicamente cristão a adaptar-se a novas religiões, como o Islão, que vão chegando juntamente com as suas tradições.  No caso da matança ritual o que choca os opositores é o facto de os animais não serem atordoados quando são abatidos.

Mas não é nada disso. Os judeus vivem na Europa há milhares de anos e sempre usaram os mesmos rituais para matar animais e garantir que a carne é ritualmente pura, acontece que esses rituais são praticamente idênticos aos islâmicos. Ou seja, isto não é nada de novo. O que é novo é a ideia de que um grupo religioso, respeitável e bem implementado na sociedade, possa ser agora impedido de levar a cabo uma prática que lhe é essencial.

Com a carne, ainda vá que não vá, há comunidades judaicas e muçulmanas que não têm dimensão suficiente para garantir toda a logística necessária para montar os processos de matança que respeitem as regras kosher e halal. Podem passar muito bem sem comer carne, se assim entenderem. Mas o que dizer sobre a circuncisão?

Sejamos claros. A história da proibição, e mais tarde legalização, da circuncisão religiosa na Alemanha (por mais que tenha sido só num Estado e a verdade é que rapidamente o fenómeno se espalhou), é uma das mais importantes notícias deste ano. A circuncisão é, para os judeus e muçulmanos, o cumprimento de um mandato divino, a correspondência do povo à aliança estabelecida por Deus. Uma comunidade judaica que não pode circuncidar os seus filhos está efectivamente a ser impedida de ser judaica.

Chegámos mesmo ao tempo em que um tribunal se julga no direito de proibir algo deste género? Pelos vistos sim. Pode-se argumentar que é indiferente porque mais tarde o Parlamento legalizou a circuncisão, mas apesar de resolver o problema a solução não deixa de ser preocupante também. Efectivamente, a circuncisão é hoje legal na Alemanha por decreto, não porque é um direito inalienável dos pais, mas sim porque os políticos se deram ao luxo de o permitir. Da mesma forma poderão retirar esse direito quando quiserem. Isto é, simplesmente, inacreditável.

Inacreditável e só possível porque chegámos a um ponto em que somos governados por classes políticas para quem a sensibilidade religiosa é inexistente. O exemplo máximo disso foi a provedora das crianças na Noruega que sugeriu, qual iluminada, que os judeus e muçulmanos passassem a circuncidar os seus filhos “simbolicamente”. Simbolicamente? Que mais senhora provedora? Porque é que não pedimos aos carnívoros para passarem a comer carne apenas de forma simbólica? Baptismo simbólico para os cristãos? Afinal de contas, a água fria pode fazer mal aos pequenos.

No meio disto continua no Reino Unido a saga de duas pessoas que foram despedidas por que se recusaram a retirar crucifixos e outras duas porque disseram que eram contra o “casamento” homossexual. O caso está perante o Tribunal Europeu dos Direitos do Homem porque os tribunais britânicos não reconheceram nestes despedimentos nada de anormal.

Shirley Chaplin, uma das queixosas
Uma sociedade em que eu, de um dia para o outro, tenho de deixar de usar o meu crucifixo ao pescoço, ou no qual eu perco o meu emprego porque digo que defendo que o conceito de casamento não deve ser mudado, é uma sociedade em que a liberdade religiosa está severamente ferida.

E é porque acredito que isto é uma clara tendência e não apenas um apanhado de factos isolados, que não tenho dúvidas em considerar que as notícias sobre liberdade religiosa na Europa são, no seu conjunto, uma das histórias mais importantes dos nossos tempos, às quais não se está a dar o devido valor.

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