Wednesday 16 October 2013

Chesterton: Santo? Talvez; Anti-Semita? Não

Michael Coren
Estou habituado a que me discutam, até que me ofendam, no Twitter e no Facebook. É o preço a pagar por ser jornalista. Se os comentários negativos no final dos meus artigos de opinião me influenciassem, há muito que tinha abandonado a profissão. Claro que os comentários positivos são todos inteiramente certeiros! O mês passado a discussão não foi sobre qualquer artigo recente ou sobre uma participação televisiva, mas sim sobre umas linhas de um livro escrito em 1988: “Gilbert: The Man Who Was G.K. Chesterton”.

Porquê o renovado interesse? Na altura eu defendi Chesterton de acusações de anti-semitismo e citei a biblioteca Wiener, de Londres, uma instituição dedicada ao estudo do Holocausto e do anti-semitismo, que explica que Chesterton, “não era um inimigo. Quando chegou a altura da verdadeira prova, ele mostrou de que lado estava”.

Claro que o timing é tudo; recentemente foi anunciado que o autor dos contos do Father Brown, “Ortodoxia”, “O Homem que era Quinta-feira”, as biografias de Aquino, Dickens e um sem número de outros livros e artigos de opinião está a ser considerado para beatificação.

Logo que isto se tornou público eu escrevi que a antiga acusação de anti-semitismo iria ser ressuscitada. Antes me tivesse enganado. Passado muito pouco tempo o influente e respeitado Jewish Chronicle, um semanário do Reino Unido, publicou um artigo intitulado: “Pode o inimigo dos judeus G.K. Chesterton ser um santo?

Penso que a formulação da pergunta revela a resposta. Segundo o autor Geoffrey Alderman: “Nunca deixa de me espantar o ponto a que algumas pessoas irão para desculpar ou minimizar expressões claras de anti-semitismo veiculadas por figuras públicas, no presente ou no passado... Chesterton era um romancista, jornalista e crítico literário de grande sucesso que se converteu ao Catolicismo. Roma gosta de retribuir os convertidos, talvez na esperança de seduzir outros a segui-los... Mas há um problema: Chesterton tinha uma aversão bem pública aos judeus e ao Judaísmo.”

Depois saca das citações e referências do costume, retiradas do seu enorme acervo literário, para provar que o homem odiava judeus.

Eu e o Alderman temos pelo menos duas coisas em comum. Ambos escrevemos sobre Chesterton, e ambos somos judeus. Eu tornei-me católico em 1985 mas, para um verdadeiro anti-semita, continuo a ser judeu. Se têm dúvidas deviam ler algumas das ofensas de que falei acima.

Todavia, enquanto judeu, tenho uma enorme dívida de gratidão para com Chesterton que, de tantas formas, me conduziu à Igreja. Isto não será grande consolo para o Sr. Alderman, mas é assim. Para uma pessoa que lutou contra o anti-semitismo toda a sua vida – como jovem reguila nas ruas de Londres e como adulto igualmente indisciplinado através da escrita – sinto-me bem qualificado a este respeito.

G.K. Chesterton
Sim, Chesterton fez alguns comentários feios, e tolos, em especial depois da morte do seu irmão Cecil, que provavelmente era um verdadeiro anti-semita. Cecil tinha lançado uma campanha contra um grupo de políticos, alguns dos quais judeus, mas morreu prematuramente em 1918. Gilbert, que tinha um fascínio pelo seu irmão, que era muito menos talentoso que ele, permitiu que a sua tristeza se transformasse em revolta contra os inimigos de Cecil.

Legou ao mundo uns versos fátuos sobre os judeus no seu romance “The Flying Inn”; mostrou-se pouco sensível nas suas palavras sobre os judeus em Inglaterra medieval; enganou-se e mostrou-se incaracteristicamente banal a respeito do julgamento Dreyfus e, nos seus piores momentos, deixou-se levar pelo mesmo caminho sujo com o seu irmão Cecil e o barulhento, mas não genuinamente anti-semita, Hillaire Belloc.

Mas devemos perguntar se um verdadeiro inimigo dos judeus poderia escrever: “O mundo deve Deus aos judeus”, ou que: “Darei a vida em defesa do último judeu na Europa”? Devemos questionar como é que ele conseguiu formar amizades tão próximas e íntimas com judeus durante toda a sua vida, pessoas que não teriam tolerado a proximidade de um anti-semita por um momento e que o disseram mesmo na altura e depois da morte de Chesterton.

Condenou o anti-semitismo, defendeu o sionismo, foi elogiado por líderes judaicos e, tão cedo como 1934, quando muitos intelectuais e políticos se mostravam ambivalentes, apelou à salvação em massa dos judeus da Alemanha Nazi. Criticou repetidamente, e publicamente, o Nacional-socialismo anti-semita. Era um homem cristão, bom e querido, que devia ter tido mais cuidado com algumas das suas afirmações mas que passou a prova quando outros falharam.

“Do vale conseguimos ver coisas grandes”, escreveu, “mas das alturas apenas coisas pequenas”. Seria tragicamente míope julgar o homem olhando apenas do ponto mais baixo do vale. O melhor é deixar a última palavra ao rabino Stephen S. Wise, um dos mais influentes líderes do Judaísmo americano da primeira metade do século XX. “Quando Hitler chegou, ele foi dos primeiros a falar com toda a franqueza e frontalidade de um grande e ousado espírito”.

Santo? Quem sabe. Anti-semita? De todo.


Michael Coren é pivot de rádio e televisão, sedeado em Toronto, no Canadá. A sua coluna de opinião é publicada em vários jornais. É autor de treze livros, incluindo “Heresy” e “Why Catholics Are Right”.

(Publicado pela primeira vez na Quinta-feira, 10 de Outubro 2013 em The Catholic Thing)

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